A classe médica não está satisfeita com a suspensão dos serviços de saúde da Prefeitura de Boa Vista, após dispensar, no dia 28 de agosto, 300 profissionais das equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF), incluindo médicos, enfermeiros e agentes de saúde. O Sindicato dos Médicos de Roraima já aprovou um indicativo de greve. Os profissionais recebem o apoio dos demais trabalhadores em saúde e também do Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM-RR).

As negociações para o impasse praticamente não avançaram, segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado, Wilson Franco. Na reunião realizada no dia 31 de agosto, entre os representantes do sindicato com a secretária de Administração, Vera Regina, e membros do corpo jurídico do município, foram discutidos os impactos que as demissões têm causado no atendimento à população nos postos de Saúde da Família.

O presidente do sindicato explicou que todas as categorias estão mobilizadas e trabalhando em conjunto, devido ao fato de 17 equipes de ESF terem sido desmontadas. “Se não houver uma reversão desse quadro dos 300 profissionais que estavam trabalhando e forma despedidos, sem o menor respeito e consideração, sem explicação lógica, com certeza será deflagrada um movimento grevista mais agressivo. Seria a última alternativa e, se for necessário, iremos fazer”, destacou.

Entre as suas justificativas, o médico explicou que mais de 100 pessoas não podem ficar sem a atenção médica que vinham recebendo por meio das equipes. “Não adianta manobra para querer fechar. Esses pacientes tinham um estatuto para ter um médico de confiança, tirar as dúvidas e recebiam a orientação no seu bairro. Esse nível de atenção é primordial. De repente, desativa-se sem uma explicação ou consideração a quem vinha realizando um serviço”, comentou Wilson Franco.

Ele lembrou que a capital reúne aproximadamente 62% da população do Estado e até mesmo as pessoas de outros municípios costumam buscar atendimento nos postos de saúde de Boa Vista. “Nossa preocupação é com a falta de assistência a essas 17 mil famílias que estão expostas, sem atendimento, além do desemprego, sem motivo aparente ou justo, de 300 profissionais que pertencem às equipes desassistidas”, lamentou, ao reforçar que o sindicato vai acompanhar os programas ESF.

“Para que nunca funcionem descaracterizados e sem equipe completa, todos os sindicatos também serão responsáveis em fiscalizar o programa ESF, pois as equipes foram formadas para atender as necessidades de serviço”, disse, ao lembrar que pode haver um colapso na saúde nos demais hospitais. “O atendimento na maternidade já dobrou. No Hospital Infantil redobrou. No Hospital Coronel Mota também. Fora as pessoas que estão deixando de receber um atendimento de doenças que podem evoluir para cronicidade e até mesmo para a morte, pois existem medicamentos controlados. Nem antibiótico pode comprar se não for receitado”, lembrou.

Ele alertou ainda que a decisão do fechamento dos postos de saúde  veio na contramão dos procedimentos recomendados  pela portaria nº 25 do Ministério da Saúde, que considera a importância da Saúde Familiar e valoriza esse tipo de atendimento. “No momento, há uma expectativa quanto à revogação das demissões e de um reajuste  de R$ 6 mil para R$ 14 mil como pagamento por equipe”, frisou. As reivindicações estão sendo traçadas em conjunto pelo Sindicato dos Médicos de Roraima, CRM-RR e Associação Médica do Estado.

Wilson Franco comentou a visita da vice-prefeita de Boa Vista, Suely Campos, a um dos postos de saúde. “Ela voltou horrorizada com o que viu. E qualquer pessoa, até a mais insensível, vai perceber a calamidade que existe, pois já estava deficitária. Se falta implementar serviços, mas fecham tudo, significa deixar a população no abandono”, reclamou.

O médico lembrou que ontem foi o prazo final para a Prefeitura responder sobre a decisão das demissões dos funcionários e a desativação dos núcleos de atenção de médicos da família. “Ainda não tivemos a informação desta resposta. Então, todos estão na expectativa e esperam um posicionamento para que possamos agir. Até agora está tudo parado e ninguém está trabalhando, porque não existe clima para isso”, frisou, ao lembrar que as demissões foram verbais e via telefone.

“Não tem nada oficial e ninguém recebeu documento. Os que continuam trabalhando tiveram uma redução de 30% no salário, em uma atitude ilegal. As decisões são de colegiado e o indicativo de greve foi votado. Primeiro acontece a paralisação de advertência e depois, a greve geral. Mas nenhum profissional gostaria de uma situação desta, porque o maior prejudicado é a população”, prosseguiu.

CRM apoia mobilização dos profissionais


O presidente do CRM-RR, Wirlande da Luz, declarou para a Folha que está acompanhando a mobilização dos médicos e dos profissionais de saúde demitidos. Ele lembrou que o indicativo de greve garante autonomia para os médicos paralisarem as suas atividades.

“Foi aprovado o indicativo de greve dos médicos de Saúde da Família e a qualquer momento eles podem entrar em greve. Eles tiveram uma reunião na semana passada com a vice-prefeita e a secretária de Administração do município, quando pediram esse prazo. Eles conversariam com os médicos nessa terça-feira, quando estariam trocando de secretário de Saúde. Mas acenaram a possibilidade de os médicos retornarem para o município. Hoje 17 médicos estão demitidos”,

Ele lembrou que cada médico atende quatro mil famílias. “São os números que mais se aproximam, pois a Secretaria Municipal de Saúde nunca nos forneceu o número oficial de médicos demitidos. Mas, se trabalharmos com 17 médicos, são 68 mil pessoas sem assistência médica e todas essas pessoas vão procurar assistência médica no pronto-socorro e pronto atendimento. A maternidade e o pronto-socorro infantil já encharcaram de pacientes. Como não tem médico da saúde da família, eles vão procurar assistência na emergência quando não é de emergência”.

SIMPÓSIO – O presidente do CRM explicou que o simpósio que trata sobre suporte de urgência e emergência, iniciado ontem, está debatendo todos esses problemas que ocorrem na saúde municipal e estadual de Roraima.

“Queremos encontrar um caminho nessas áreas de urgência e emergência para melhorar essa crueldade que é o atendimento de urgência e emergência em Boa Vista. É cruel para os profissionais, médicos, enfermeiros e todos desta área, e é mais cruel ainda para os pacientes”, disse.

Wirlande da Luz lembrou que o simpósio está sendo promovido em todo o país pelos CRMs e será fechado num evento nacional em Brasília. “Uma carta será encaminhada para o Ministério da Saúde e a presidente Dilma Rulssef, para que possa investir mais recursos nesta área de urgência e emergência”, disse, ao lembrar que o evento encerra na noite desta terça-feira. O tema de hoje será urgência e emergência nas áreas de fronteiras, indígenas e serviços móveis (ambulância e aéreo).

FONTE: FOLHA DE BOA VISTA

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