Foto:  Arquivo/Folha

Wirlande da Luz: “A relação médico/habitante está dentro da média brasileira em Roraima”

OZIELI FERREIRA

Pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que há poucos médicos para atender a população brasileira, sobretudo na Região Norte. Na pesquisa, Roraima é apontado como o Estado que tem menos médicos. 


Mas o presidente do Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM-RR), Wirlande da Luz, explicou que o número de médicos no país é suficiente para atender toda a população, o problema está na distribuição desses profissionais. Conforme estudo realizado pelo Conselho Federal de Medicina, a maior parte dos médicos prefere ficar nos grandes centros por inúmeros motivos, como melhores condições de trabalho, salários e infraestrutura de moradia. 


“Dos 371 mil médicos brasileiros, 98 mil estão em São Paulo, quase um terço. A maioria se concentra nas regiões Sul e Sudeste. Em vista disso, há realmente uma carência de médicos na Região Norte, já que eles se concentram em área mais populosa e que oferece melhores condições de trabalho”, explicou. Ele disse que se for dividir o número de médicos pela população brasileira, dará um profissional para menos de um mil habitantes. No entanto há lugares onde não há nenhum médico, principalmente em áreas remotas da Amazônia.  


No CRM-RR há 624 médicos cadastrados. Conforme o IBGE, Roraima possui 425.398 habitantes, ou seja, temos um médico para cada 681,7 pessoas. Esta relação está dentro da média brasileira, observa Wirlande da Luz. “O estudo mais recente diz que o ideal é um profissional para cada 500 habitantes”, informa.


Segundo ele, a Amazônia é a região com o pior índice porque os municípios, exceto a capital, não oferecem condições de trabalho adequado. “Às vezes mal tem uma ambulância para transportar o doente. Então, os médicos não querem se deslocar para esses lugares para trabalhar”, disse, ao destacar que o profissional precisa de uma equipe de apoio para trabalhar. “No interior, geralmente o médico é de todas as especialidades e atende 24 horas”.


Para ele, o governo brasileiro deve investir para melhorar as condições de vida no interior, para deslocar para estas áreas, além de médicos, outros profissionais. “Se o governo brasileiro, em especial o estadual, não ajudar essas regiões, dificilmente terá condições para atrair esse tipo de profissionais qualificados e em condições de exercer um trabalho decente para a população. Em interior não se encontra bioquímico porque não há laboratórios, não tem fisioterapeuta porque não há equipamento”, exemplificou.


FOMATURAS – O curso de Medicina tem 15 anos de existência na Universidade Federal de Roraima (UFRR) e a cada ano forma em média 25 alunos. A coordenação do curso acredita que somente 20% dos formados permanecem no Estado. Entre os motivos apontados para a saída de Roraima é que a maior parte dos estudantes vem de outros estados. Logo que concluem o curso vão para suas cidades.



Roraima não tem cirurgião de cabeça e pescoço, apesar  do grande número de acidentes

Em Roraima, os 624 médicos estão distribuídos nas mais diversas áreas. Nas especialidades básicas, que são clínicas médica, pediatria, cirurgia e anestesiologia, encontra-se um número razoável de profissionais. Em algumas áreas há carência de médico, como cirurgião de cabeça e pescoço em razão dos números de acidentes de trânsito que acontecem no Estado. “Não temos nenhum desta área registrado no Conselho”, esclarece. E só há um cirurgião de tórax. “Estes médicos não vêm para cá porque são poucos no país, não vêm arriscar em hospitais onde não oferecem condições adequadas de trabalho”, explicou.


Pediatria é a especialidade com a maior oferta, 47 profissionais, seguida de ginecologia e obstetrícia, com 41, clínica médica, com 38, e cirurgia geral, com 28.


O CRM não sabe exatamente quantos médicos há no interior. Embora as prefeituras tenham um número fechado, o presidente explica que estes médicos não são fixos. Eles prestam, por exemplo, dois dias de trabalho e vão embora. “Muitos prestam trabalho de 8h da manhã as 18h e à noite a população fica sem médico. Em alguns municípios há dois médicos fixos, os demais vão lá, prestam serviço e depois voltam para a cidade ou só tiram plantão no final da semana”, esclareceu. 


A estratégia para manter os médicos no interior é ter concurso público com plano de cargos e carreira e dotar os municípios com condições adequadas de moradia e de trabalho. Mesmo pagando R$ 50 mil, com o um ano o médico volta para a cidade e monta consultório, observou. 


Um estudo feito pelo CFM, com o título “O médico e seu trabalho”, mostra que os médicos que vão trabalhar no interior, isso em todo o Brasil, estão mais vulneráveis ao divórcio, ao alcoolismo, depressão e suicídio. O motivo é que nesses lugares eles não têm infraestrutura adequada para criar filhos e desenvolver um trabalho decente. Assim como resto do país, em Roraima a reivindicação da classe é por melhores condições de trabalho, seguida por melhores salários e vínculos trabalhistas. 



Rede municipal dispõe de 190 profissionais

Conforme a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), o município tem em seu quadro aproximadamente 190 médicos. A secretaria informou que o atendimento de saúde no Brasil é tripartite, ou seja, com competências divididas entre município, estado e governo federal.


Segundo o Sistema Único de Saúde (SUS), a responsabilidade no âmbito municipal é de baixa complexidade, ou seja, a prestação de serviços de atenção básica, como pré-natal, consultas, exames simples, vacinação e orientar quanto à prevenção de doenças. Este tipo de serviço é realizado nos centros de saúde dos bairros de Boa Vista, administrados pela Prefeitura.


Todo o atendimento de média e alta complexidade é de responsabilidade do Estado, como emergências, urgências, internações, exames laboratoriais complexos, como mamografia, entre outros. Os únicos casos de média e alta complexidade atendidos pelo Município são aqueles de crianças de 0 a 15 anos de idade, que são destinados ao Hospital da Criança Santo Antônio.


Para atender de maneira mais eficiente, a Prefeitura está melhorando a estrutura do hospital com a ampliação da emergência e contratação de novos médicos, o que diminui o tempo de espera na emergência.


Sesau presta atendimento em todo o Estado com 350 médicos

A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) tem na rede estadual aproximadamente 350 médicos entre efetivos, federais e cooperados. Para os 14 municípios, são mantidos 48 contratos médicos. Em média, a maioria dessas localidades conta com dois médicos atendendo, mas esse número pode chegar a oito, como em Mucajaí, e seis em Pacaraima.


Segundo a secretaria, levando em conta o Censo 2010, com população de 450.479 habitantes, Roraima está acima da média preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que sugere um médico para cada mil habitantes. Mesmo dentro do que estabelece como número ideal, Roraima tem carência de profissionais médicos. 


Ela ressaltou que especialidades como cardiologia, gastroenterologista, pneumologia, otorrinolaringologia, proctologia, neurologia, dermatologia e urologia, o número de profissionais é reduzido no mercado local, o que dificulta a contratação dos serviços.


Como forma de incentivo, o Governo do Estado sancionou no ano passado a lei que autorizou a contratação de mais oito médicos aprovados no concurso público, além de aumentar o valor dos plantões dos profissionais de saúde, como o de médicos, que passou de R$ 600 para R$ 1.000,00. Também está previsto para o mês de janeiro o lançamento de processo seletivo que visa contratar 234 profissionais médicos.

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